* Sobre as coisas em comum *
Madeleynni, por obra de sua mãe.
Não compreendia as excentricidades de sua mãe, tampouco esse nome esdrúxulo que lhe havia ofertado.
Ninguém sabia mais que ela como era difícil carregar um nome com uma grafia tão esquisita. Sentia-se a última das moças. Queria ter um nome desses acolhedores. Maria, Joana, Beatriz, mas Madeleynni não lhe reconfortaria.
Deve ser por isso que quando viu Francisco pela primeira vez teve certeza que se pra nomes sonoros não havia nascido, para o amor sim.
Conheceu Francisco na frente do supermercado.
Não foi dentro do super, perto do caixa, na fila do pão, procurando esmalte cor "Morangos Silvestres" para as unhas bem cuidadas. Foi fora do estabelecimento que sentiu uma pontinha de frescor no estômago quando o viu.
Era uma sensação diferente que lhe a preenchia. Madeleynni sentia como se tivesse bebido três ou quatro enxaguantes bucais e só assim explicaria aquela sensação. Estava tomada pelo amor e ainda não compreendia.
Francisco estava parado, terminando o cigarro. Ela sentiu um aroma de menta, mas menta defumada. Guiada pelo cheiro adocicado olhou para o lado antes de comprar os ingredientes para o fricassê que faria.
Acabou encontrando com os dois grandes olhos castanhos o final do "Sampoerna" sendo degustado pelo cara de sua vida.
Pensou em dizer algo inteligente, mas acabou saindo:
- Moço, tu sabias que cada cigarro corresponde a 11 minutos a menos de vida?
(e ainda pensou antes de qualquer aceno dele que era uma burra, ai que idiota. I-di-o-ta!!! Tinha que acabar solteira, solitária, velhinha blasfemando falsos amores num asilo cheirando a mofo. Com um nome daqueles não poderia esperar mais que isso. Que raiva!!! Ai, Madeleynni tu não aprendes).
Francisco, que ela ainda não sabia se chamar assim, com a elegância que lhe era intrínseca, cordialmente respondeu:
- Tomara que não corresponda esse tempo aos minutos finais de uma partida do Grêmio. Isso seria uma tremenda sacanagem divina.
(disse rindo).
Madeleynni voltou a abrir o sorriso. Um gremista. Um cara bonito como ele, bem humorado como já havia notado e torcia pelo tricolor gaúcho. O que mais ela queria? Já se imaginando ao pé do altar ao lado daquele moço atraente, ela prosseguiu.
- É ótimo estar em primeiro no campeonato brasileiro, não?
Francisco ficou mais empolgado e foi logo perguntando:
- Tu viste aquela do Stevie Wonder com a camiseta do Grêmio e uma frase abaixo: "Não vejo nada a minha frente"?
Gargalhada comprida e ela disse:
- Muuuuuuuuito boa. Não vi ainda não. Mas já morri de rir só imaginando.
Ele se acalmou um pouco, retirou um bloco de dentro da pasta e questionou Madelleyni:
- Por favor, me diz qual é teu e-mail e eu poderei te mandar.
Ela coçou a nuca levemente e respondeu:
- Bom, antes tu precisar saber que me chamo Madeleynni. Com um "Y" e dois "N". Coisas de mãe.
Ele como sempre gentil rebateu:
- Bom, eu me chamo Francisco. Mas os íntimos me chamam de Chico. Posso te chamar de Made?
Madeleynni não se aguentou:
Ele anotou e após prosseguiu:
- Tens 27 anos também! Em que mês fazes aniversário?
- Maio. Primeiro dia de gêmeos e tu?
- Eu faço em setembro. Libriano. Mas tu estás bem para 27. Nem parece. Coroa enxuta!!!
Riram os dois juntos. Entretanto ela estava com pressa. Deu um beijo entre o lábio e a bochecha esquerda dele e ainda disse:
- Aguardo o Stevie, hein???
E saiu correndo.
Ele ficou ali parado, tentando se acordar de um sonho tão bom quanto àquele.
No outro dia, quando Made se acordou foi direto pro computador, abriu sua caixa de entrada e leu e releu o e-mail já irremediavelmente apaixonada:
Enviada: quinta-feira, 7 de agosto de 2008 20:19:08.
Coincidência, não? Sim, meu par de olhos amam olhar os teus.
E eu não páro de pensar em ti.
Beijo.
PS: Parte do nosso primeiro e-mail trocado transcrito.
PSII: E acho que nós dois ainda sofremos do mesmo mal. Não conseguimos parar de pensar um no outro. Te amo!!!