quarta-feira, 27 de agosto de 2008


* Sobre ácidos abacaxis e açucaradas amoras *

Era duro ser uma amora num mundo de abacaxis.
Pensou isso, mas nada disse. Era tido como a queixosa chata. E odiava ser reconhecida assim, era difícil ter que carregar consigo aquele feio apelido.
Saía de casa quase sempre de sombra "canário" e uma tiara verde de folhagens que havia confeccionado num dia modorrento quando o calor e a umidade alta faziam lembrá-la ainda mais de suas evidentes diferenças com o resto da multidão ornada de cor ouro.
Como uma família de tão tenros e altivos abacacaxis poderia ter tido uma amorinha de tão pouca significância como ela? Com 2/5 de vida ainda não tinha encontrado a resposta, então se acostumava a trajar algumas vestes douradas tentando se parecer mais com os outros e a se habituar com esse martírio rotineiro.
Naquela cidadezinha de fim do mundo onde nascera apenas abacaxis imponentes tinham vez. E ela, mesmo cobrindo o apoucado corpo de vestidinhos amarelos não poderia ser feliz e isso há tempos estava acertado.
Como nos fins de todas as tardes naquele lugar cítrico, azedo, sentou no banco pintado de verde da pracinha, bem ao lado do chafariz naquele parque que cortava a cidade. Com as perninhas que não alcançavam o chão fazia um balé esquisito, silencioso embalando-as uma vez pra cá, duas vezes para lá, e lendo ser romance preferido que falava sobre destino.
E ela pequenina e avermelhada que acreditava em amor, destino, no oito deitado (infinito) e hora certa quase não acreditou quando viu aquela cena.
No outro banco de madeira pintado de verde pertinho da cancha de vôlei estava sentado um outro fruto como ela, um "amoro", que trazia no rosto um grande óculos escuros e tocava uma canção conhecida no violão preto que tinha no colo.
A amorinha então sorriu. E fazia tempos que ela não sorria assim.
Num piscar de olhos fechou o livro, deu um salto do banco onde estava, se aproximou do "amoro" e perguntou:
- Tudo bem?
O fruto escarlate abaixou com a mão os óculos até eles pousarem em seu nariz deixando aparecer os dois olhos verdes que pareciam mirar um sonho bonito e disse:
- Nem tudo, tu sabes bem o que é ser uma amora numa terra de abacaxis.
Riram os dois ao mesmo tempo com tamanha cumplicidade de quem se conhece a vida toda.
Sabiam que o futuro juntos não seria fácil, contudo para duas amoras o amor parecia poder sobrepujar a tudo.

PS: Meu amor, minha amora, meu amoro. : )

terça-feira, 26 de agosto de 2008


Da série: postagens antigas - parte I - texto do dia 10/10/2006

* Das vezes em que o coração se faz poesia *

O tule azul.
Só lembraria do tule azul passados três dias do grande ocorrido.
Tule azul, pele clara de pequenas veinhas cor "Listerine", brocais, calor intenso, as lágrimas presentes naqueles olhos, "uma quase chuva" que os acompanhava, a mão dela perdida no ar, os passos dele descoordenados.
Lembrou do tule apenas três dias depois quando ainda recordava daquele beijo.
Aqueles sorrisos.
Lembraria do tule azul que combinava com o bonito brinco de pedrarias quando acordasse (do sonho, talvez).
Diria um "bomdiamundoeuestouaqui" e sentiria o tule azul.
A parede branca, a inexistente brisa, o antúrio vermelho de plástico, as borboletas que cobriam o ventre, das mãos que "conversavam", as ruas pelas quais se perdeu.
Do "R" que estava escrito em seu caderno (vida).
Sonharia com o tule azul e o cheiro de terra úmida lá fora.
(e se Deus o ouvisse, seria realmente feliz).


PSI: Pessoas queridas que me presenteiam com as visitas no blog, agora estarei postando alternadamente um texto novo e um texto antigo (do Taia Garrido I). Os textos antigos virão sempre com imagens em preto e branco para melhor compreensão. : )
PSII: Espero que gostem. Ah, estou aberta a eventuais reclamações também. Beijos para todos!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008


* Das conclusões *

Não é que ninguém te amou, te ama ou te amará como eu te amo.
Mas o que eu tenho por ti daria uns grandes capítulos de um livro sem fim que quase ninguém teria o disparate de ler por pura preguiça.
Porque o que eu sinto por ti ultrapassa o convencional.
Contigo, estou despido de pudores, tristezas, de "ais", de "uis", de licença para isso, aquilo e aquele outro. Despido até mesmo de velhos paradigmas que me faziam crer que amar era estar preso a alguém, um "depender" que abafa.
Porque tu me ensinaste a ser mais homem que muitos caras que eu conheço. Tu fizeste com que eu me desligasse de medos, de frustrações e me mostrou um mundo bom onde tu existes, eu existo e para podermos ser ainda mais felizes apertamos nossas quatro mãos e somos capazes de tudo.
Não é que ninguém te ame mais que eu, entretanto eu serei para sempre teu companheiro, teu sorriso predileto, tua vontade de melhorar, tua donzela em apuros, teu cavaleiro da armadura reluzente, teu desejo, tua tara, teu gemido, teu rosto inchado, teu melhor amigo, teu marido, teu homem, tua mulher.
Eu poderia até apostar, mas sei que até tu não sabes quantas linhas cortam tua mão direita. E eu posso te dizer, até mesmo de uma pequena rachadura que divide uma delas. Mas como isso é uma aposta deixo também decretado que te direi mais tarde (quando nós dois estivermos sozinhos).
Porque te amo sabendo das tuas encanações, dos teus sonhos, das tuas estrelas da sorte no céu, do teu santo preferido, da trilha sonora da tua vida, tuas pequeninas teimosias, das tuas cinco tatuagens, da nota musical colorida que mora no teu dorso, das tuas loiras penugens no meu rosto.
E não é uma questão só de corpos. Porque tem aquela gente que acredita que toda a fome de amor acaba na cama. A minha fome é saciada só com o que vem depois, com o café da manhã na cama ao teu lado. Encher tua xícara de leite e ver o farelo do biscoito no canto da tua boca. E tirar o farelo dali com um beijo meu. Não é apenas uma questão de corpos que combinam, mas sim de almas que se completam.
E uma questão de coração. Que pulsa rápido, por isso essa minha constante pressa de ti.
Não é que ninguém te amou, te ama ou te amará como eu, entretanto eu te conheço desde o começo e quero prosseguir a conhecer (e a me surpreender).

PS: Porque tu me fazes sorrir ainda mais.
PSII: A partir dessa semana estarei publicando postagens mais antigas do "taiagarridoI". Beijinhos. ; )

quinta-feira, 21 de agosto de 2008


* Das liçõezinhas gramaticais *

No início era apenas um verbo: Amar.
Sabia que era um verbo intransitivo.
Não precisa de objetos, nem direto, muito menos indireto disse a professora da quinta série chamada Marilu para ela um dia.
Mas não era bem assim.
Na escola ela tinha aprendido de forma errônea e isso estava provado agora.
Com um quarto de vida (desde a infância acreditou que as pessoas morressem com boas histórias realmente para contar com um século de vida) encontrou o seu complemento.
Não era a minha intenção dizer isso tão diretamente. Peço desculpas e remendo o contado. Com 25 anos, tristezas a mais e sorrisos a menos, ela o encontrou.
Bom, foi ele quem a encontrou. Numa multidão de rostos desconhecidos, ele a viu acariciando o cabelo negro com mechas avermelhadas que aquele dia úmido deixara todo eriçado. Coisas de mulher, eu sei. Homens não têm medo de dias chuvosos, mulheres são capazes de dar à luz, no entanto morrem de medo de umidade.
Ele queria ter passado os dedos trêmulos naqueles fios escuros, mas não o fez.
Ela queria dizer que o esmalte que estava usando se chamava "Deixa Beijar".
E faria um comentário bem humorado após isso:
"- É cada coisa que se vê hoje em dia".
E ele talvez dissesse: " - Porque tu não sabes ainda o apelido que eu ganhei na escola..."
Ela perguntaria (sorrindo e com uma esperança imensa dentro de si para que aquela conversa não acabasse): " - E qual era o teu apelido?"
Ele então faria uns ares de suspense e logo em seguida responderia pausadamente: "Xe-re-ta".
Cairiam na risada.
Ele tocaria o ombro dela, completaria: "- Por essa tu não esperavas, né?"
Ela com as mãos gesticularia e falaria: " -Não, mas porque não te conheço ainda."
E essa seria a brecha para começarem uma história de amor.
Mas ela estava comprometida.
E ele estava um pouco ocupado demais vivendo histórias repetidas, angustiantes, "assim-assim".
Depois dessa primeira vez, ela não parou mais de pensar no nome dele. Nos olhos dele. Naquele sorriso. A cada manhã tinha mais certeza que o seu verbo amar tinha encontrado o complemento perfeito: ele. Entretanto ela não era nada corajosa. E não tentou encontrá-lo. Tentou levar adiante aquele namoro malfadado. Tentou ser uma pessoa melhor. Tentou esquecê-lo. E não conseguiu.
Uns dois meses se passaram. Ele ainda descolou umas menininhas. Sempre tem gente querendo algo descartável. De uma noite só. E ele sabia que possivelmente não a teria. Que em breve ela iria se casar com outro. E ela não era uma moça de uma noite apenas, e sim de todas as noites pelo resto da vida.
Ele cansou.
Ela cansou.
E foi aí que ele criou a coragem (que nela até então era inexistente). E saiu à procura daquela que era dona de seus sentimentos mais profundos. Marcou um encontro com ela.
Disse que estava apaixonado. Que era pensar nela e acordes de violão ecoavam por todo seu corpo.
Ela (com as habituais lágrimas nos olhos escuros) disse que sentia o mesmo.
Não se beijaram.
Seguraram as mãos um do outro. Tentando ali penetrar um na vida do outro.
(Borboletas no estômago).
Chegaram bem perto um do outro.
Dois corações em brasa.
Se abraçaram demoradamente.
Combinaram um segundo encontro para a próxima semana.
E a partir de então quando estão juntos só sabem usar aquele verbo intransitivo.
(Amar, amar, amar...)

PS: É como te disse pela manhã, és quem completa minha vida.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008


* Ainda sobre os dois *

Leônidas deitou um pouco antes de Ana Maria.
Ele já tinha se acostumado a deitar no horário em que ela acabava as tarefas todas, mas justamente naquele dia o sono não lhe permitiu contemplar aquele ritual costumeiro de Ana que tirava a maquiagem pela quinta vez do olho direito com o demaquilante e só aí sossegava a cabeça avermelhada no travesseiro.
Ana estranhou ver Leônidas jogado na cama tão cedo e tão quieto.
Ela fechou a janela que deixava escapar um vento frio e teimoso, deitou ao lado dele, procurou-lhe a boca e deu um beijinho no canto dos lábios. Um boa noite reconfortante aquele.
Lêonidas então olhou-a nos olhos, mas profundamente. Como ninguém olhara antes aquele par de íris castanhas, enxergando não pupilas, cílios, nervuras ópticas e sim contemplando a alma de sua amada.
Parou um pouco, dessa vez mirando o colo pálido de Ana e disse:
- Tu és a mulher mais bonita que já vi na vida.
Ana sorriu com as pálpebras, com as covinhas, nunca com a boca e respondeu:
- Pois tu deves estar precisando visitar o oculista, amor.
Lêonidas completou:
- Que nada, as pessoas é que são tristes de não poderem ver além dessa beleza que trazes no rosto, nos gestos, na suavidade. Eu que sou feliz por ser capaz de compreender a beleza moradora do teu coração.
Ana umedeceu os olhos.
Desde que Leônidas e ela passaram a dividir os mesmos anseios, sonhos, as mesmas meias de lã para dormir, os dias apenas têm parecido capítulos de um belo conto de fadas.

PS: Todos os meus abraços, beijos, sorrisos são teus. ; )

sexta-feira, 15 de agosto de 2008


* Sobre o "amor-perfeito" *

Seria facílimo escrever um texto sobre teus delicados atributos dois dias depois de completarmos um ano e dez meses juntos, mas nós dois sabemos bem que isso seria muito simples mesmo.
Complicado mesmo é demonstrar amor.
É ser cúmplice, dar força quando tudo anda voraz de desamor.
Quando ela chora porque algo saiu errado, oscilando como um pêndulo de um lado para o outro, esbravejando pela casa e eu chegar, não perguntar o que está errado (ninguém gosta de ser questionado sobre isso), dar um abraço e combinar para amanhã um expresso com pão-de-queijo naquele primeiro lugar quando os seus pares de olhos reconheceram o grande amor. E de repente ela te entregará um sorriso. Ou achará tua atitude sensível e tu que definitivamente não é o moço mais gentil (nem da rua) ganhará esse título e dali em diante terá que honrá-lo.
Não que eu esteja sendo pretensioso em dizer que sei amar. Não, senhores, isso não se aprende.
É como mascar chiclete de hortelã, não há como vez ou outra morder a língua e sentir um gostinho de sangue mentolado em tua boca.
Então, pra vocês que querem saber a fórmula.
A verdade, a bem verdade é que não há nenhuma mágica, segredo ou receita.
Sobre amar não há manuais, teses de mestrado. Não há pós-graduação nisso.
E há outro pormenor que deve ser observado. Não há segunda chance para o grande amor. Às vezes temos a sorte de encontrarmos a pessoa de nossa vida nessa vida mesmo. E bem, se isso te acontecer, agarre essa chance.
É mais fácil ganhar na loteria que encontrar o verdadeiro amor.
(Ou a amora. Ao vosso gosto.)
Quando a encontrei foi como a abóboda celeste se curvasse até mim entregando sua estrela mais resplandecente.
O primeiro passo foi dado.
Quando eu percebi o quanto ela era bonita, descolada, que cantava como o passarinho de peito amarelo que mora numa das árvores da Redenção.
Quando vi sua responsabilidade, seus medos, seu jeito de sempre manter organizado o armário e de tentar frustradamente arrumar o meu, eu me apaixonei. Me apaixono até pela maneira como fala que usa um óculos que tem grau de descanso no olho direito e 1.75 no olho esquerdo, e que anda com uma dor na cabeça de forçar os faróis verdes o dia todo no trabalho.
Gosto também quando ela diz que preciso ir num médico. Basta uma alergia no dedo mínimo do pé e ela diz: "Tu não procuras nunca um médico, olha lá hein? Não direi mais". E na outra semana quando eu me queixo de uma dorzinha nas costas começa quando toda a explanação sobre hospitais, consultas e homens de branco novamente.
Adoro o fato de ela sempre me achar bonito. Mesmo quando acordo com o cabelo todo bagunçado, a sobrancelha revirada.
Gosto quando ela diz que me ama a cada meia hora também me deixa dopado de felicidade.
Reconheci a verdadeira beleza da vida quando soltei das ataduras do mundo e segurei as tuas mãos.

PS: (e eu sei que quando tudo me faltar, ainda te terei ao meu lado pra me ajudar a levantar).

segunda-feira, 11 de agosto de 2008


* Recortes do dulcíssimo sábado à noite *


Deve ser pela maneira como ela veste laranja.
Se nos outros essa tonalidade berra desenfreada, louca... nela essa cor se faz gloriosa.
É bonita tal qual o tom do coral que guarda os peixinhos solitários.
Ou como um hibisco que se abre durante a manhã e que com o pôr-do-sol se cala, faz uma pausa parecendo uma pequena bailarina a esperar pela canção (ou raios solares) que a farão dançar novamente.
Também se assemelha com a capa da agenda da menina que ainda sem viver o amor ensaia ali o seu vocabulário imaginoso por entre primeiro beijo, entrelinhas e lirismo.
É da quase mesma beleza (porque eu sempre saberei que a beleza dela é a maior) do brilho do escudo do bravo guerreiro que esbraveja contra o avejão que amedontra as noites de sonho da donzela.
Ela quando traja laranja traz clamor ao peito do desapaixonado que já não vislumbrava o amor, mas que com uma simples ida a um jardim repleto de maria-sem-vergonha passa novamente a acreditar.
Salta dela, aos olhos meus, um constante ar de madrepérola.
E se vocês pudessem a ver quando se põe a cantar, entenderiam o meu sentimento mais fremente.
Porque antes dela a minha poesia era triste, convencional, passageira.
Por isso e coisas mais que ela é a primeira e única porta-estandarte do meu bloco chamado "Coração".

PS: Que a semana passe voando. : )

quinta-feira, 7 de agosto de 2008


* Do presente inesperado *

Não, definitivamente ela não era a mademoiselle que a sua vó sonhara como futuro para uma menina tão engraçadinha.
Vivia com os joelhos encardidos, com os cabelos revoltos afogueados no rosto e uma coceirinha na nuca que não a deixava em paz. Ainda que acabasse de sair enrolada por toalhas felpudas do banho, tinha aquela "sarna-de-gente-limpa" (como sua mãe chamava) para lhe complicar a vida.
Passou a semana pensando no menininho loiro que andava de bicicleta nas redondezas. Não sabia o nome dele e nem se importava ainda com isso. Era uma criança e para ela sonhar que o nome dele era algo melodramático como "Carlos Augusto" a fazia sorrir. Passava as tardes inventando nomes compostos para seu pseudonamorado. Mas era feliz assim. E isso até então bastava.
Só que numa dessas tardes de sol a pino, acalorada que dava de presente uma centelha de suor em sua testa ela percebeu que não poderia continuar risonha sendo só. E chegou a essa conclusão quando o menino loiro passou rasgando a rua, em meio a uma gente monótona, sem graça, insossa. Levando consigo ervas daninhas arrancadas uma a uma do canteiro da vizinha. A menina de joelhos enxovalhados, no alto de seus nove anos de idade, percebeu que teria que casar com ele.
E naquela mesma semana começou a colocar em prática seus planos.
Pensou em pedir ao seu pai que comprasse uma camiseta tricolor ao menino. Sim, logo após ele iria agradecê-la, colocaria uma vivacidade absurda em seus olhos turmalina e diria: "Também te amo, meu amor". Finalmente, ela seria o amor de alguém. Seria o amor daquele menino loiro. Poxa, como ela estava feliz.
Mas Deus de vez em quando é meio esquisito. Ao menos foi isso que ela pensou quando o pai disse que a grana aquele mês estava curtíssima e que ela teria que esperar pela mesada de setembro. Era início de agosto e ela teria que esperar setembro. Era uma tristeza só. Agosto, mês do desgosto. O amor se tornava remoto, longínquo por vinte e poucos dias. Não, ela não poderia esperar tanto.
Foi quando teve aquela idéia mágica.
A menina ruiva era adepta de idéias.
(...Sempre inventou brincadeiras geniais em que apenas ela e sua sombra participavam. Não que ela fosse chata e que ninguém quisesse depositar um pouquinho de suas horas com ela, mas desde cedo ela aprendeu que não precisaria comprovar ao mundo, às meninas metidinhas de sua classe que era uma pessoa legal. Desistiu disso tudo um dia e resolveu brincar com sua própria imaginação).
E deve ser por isso que teve aquele rompante e correu para dentro da casa, revirou o armário e despejou tudo que havia dentro de uma caixinha velha onde ela costuamava guardar seus tesouros.
E com brocados, pedaços de cetim, papel de seda, fio de nylon, tinta com purpurina para tecido, pedaços de cartolina fatiados fez a coisa mais bonita que alguém poderia criar.
Foi dormir exausta. Realmente um início de romance desgastava quem ainda era inexperiente nessas terras fantásticas do amor.
No outro dia ficou desde cedo sentada na frente de sua casa, esperando ele passar.
Estava tão radiante e inexplicavelmente bonita com sua camisa branca nova, seus sapatinhos vermelhos que quando o menino se aproximou com a bicicleta parou de correr naquela habitual velocidade desmedida.
Ele parou.
Desceu da bicicleta e ficou vendo aquela miragem em sua frente. Como poderia ter passado por ali e nunca tinha reparado nela? No alto de seus oito anos e meio tinha uma pressa pra aproveitar a vida e não havia prestado atenção suficiente naquela menina ruiva.
Ela estendeu as duas mãos e entregou a ele uma caixinha azul com um grande laço branco.
Ele aceitou timidamente. Não tinha nada para retribuir aquela oferenda.
Rasgou o papel e não acreditou no que viu no fundo da caixa.
Perguntou ainda:
- É o teu?
A menina ruiva replicou:
- É o meu sim. E é pra ti.
Ele apertou contra o peito o coração de miudezas que havia sido confeccionado por ela.
Levantou a menina da ponta do muro e lhe deu um beijo estalado na bochecha direita.
E com a bicicleta sendo levada com o braço esquerdo, o menino loiro recostou o seu braço direito inteirinho nas costas da menina ruiva. E saíram juntos por aí.
(E dizem que desde aquele instante só deu pra se escutar um par de órgãos encarnados pulsando juntos para o todo sempre).

PS: Para ti que tens estes fios loiros em que gosto de me perder.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

* Serenata para teus bonitos olhos verdes *

O meu azul desbotado, quietinho, morno encheste de esperança.
Não daquelas esperanças que povoam o sonho de toda a gente, porque não és como toda a gente.
És a escolhida pra mim (mesmo que nem todos possam ainda saber).
Antes eu procurava num mundo sombrio respostas para essa saudade já latente (de ti) que morava no meu peito. Eu era melancólico e chato.
Então vieste com tuas várias cores, teus sete sorrisos, tuas trinta e seis maneiras de dizer o meu nome e eu me entreguei. Agora alimento um pouco da minha melancolia quando fico horas sem te ver.
O meu azul então não se tornou apenas sombra para o que é pra ser vivido agora.
No buquê de gérberas vermelhas que um dia te entreguei ficou também o meu sim para a promessa feita.
(e vamos seguindo, os dois, para um pra sempre feliz).
Porque somos flor, porque somos amor.
PS: Mais uma semana, e logo mais um aniversário sendo comemorado.
PSII: Te amo. Saibas disso sempre. ; )