segunda-feira, 29 de setembro de 2008


* Dos pormenores do amor *

A menina-amor não tem nome.
Quer dizer, é mais ou menos assim. O nome dela não será revelado.
Porque há certas coisas que não precisam ser ditas.
Há o amor. Há o encontro, a dança de almas.
E para vocês eu sei que isso é o suficiente.
A menina-amor tem cinco tatuagens espalhadas pelo corpo. Sei bem que todos ficarão assustados.
Poderão pensar "quemocinhalibertinaporquemessemoçofoiseapaixonar", mas eu sempre insisti com vocês, o trivial não me convence.
Além da borboleta que traz tatuada no ventre possui os nomes daqueles que a inventaram num belo dia de sol, com grama cheirando a um verde descontrolado, quando as borboletas faziam cosquinha em nuvens de algodão.
Tem uma tribal nas costas. Que antes era bem negra, mas que com o passar do tempo ficou clara. Quase sumida no corpo da mocinha.
Há também um ideograma que fala sobre o amor. Que ainda não tinha quando a fez. Não me conhecia, eu posso me gabar. Conhecemos os dois juntos sobre o amor.
Mais embaixo possuía um símbolo que com o tempo, as tristezas, os "mal-me-queres", as desilusões tornou-se desbotado. E eu vendo aquela aflição pintada nela disse: "A vida é pra ser canção". Daí ela tatuou por cima uma letra musical para espantar qualquer tristeza que poderia existir.
Quando perguntaram a mim quantas tatuagens eu tinha, baixei um tanto a camiseta preta deixando mostrar um pouco do peito e ainda disse:
- Apenas uma. Ó, aqui dentro do coração tenho o nome dela tatuado.
PS: Aniversário nessa semana. :D

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Da série: postagens antigas - parte VI - texto do dia 25/10/2006

* Canção pra ela *

Então tu olhas pra tua vida e reparas que fez do amor um simples soneto.
Fizeste do amor somente poesia triste (poesia solitária).
Poeminha sem rima, sem graça, sem personagens principais.
Fizeste do amor peso pra segurar os livros na estante.
O amor fica ali empoeirado no último lugar que deveria ser guardado.
Empoeirado.
O amor está mofado, teu coração embolorado e nada mudará isso.
Mas tu, numa dessas pressas cotidianas, esqueces a tua porta da alma entreaberta.
E talvez alguém veja essa fresta e queira entrar.
A menininha loira nem pensa em bater na tua porta de entrada.
Te invades por inteiro.
Enches tuas narinas com um cheirinho de jasmim que te deixa petrificado.
Tu és um homem bobo, um ser patético.
Primeiro tu negas o toque.
A poesia.
As canções que são pra ti.
Passa dias, meses... tentando achar um jeito de selar as aberturas.
De trancar a tua casa.
Pensa em alarmes, correntes, códigos.
Tu tentas adiar uma felicidade que quer acontecer.
Só que um dia tu desistes de recusar tudo isso.
Sentes uma vontade descontralada de não ser apenas palavras bonitas que saem entre aqueles lábios rosados dela.
Tu queres abraçá-la.
Não queres nunca mais esquecê-la.
Queres prender teus dentes naquele lábio inferior e não lembrar dos problemas
(os problemas que tu usavas como armadura para não deixar que essa sensação te tomasse os poros).
Então, meu caro... tu estás perdido.
Mas perdido na melhor das acepções.
Tu estás perdido (de amor) por ela.

terça-feira, 23 de setembro de 2008


* Das surpresas *

Era uma segunda-feira.
Ao menos ele lembrava daquele fato ocorrendo numa segunda-feira quando as flores pousadas sobre os brancos nas praças anunciavam os primeiro acordes da primavera.
Lembrou que ela tinha reclamado da falta de um lápis preto para fazer aquela pintura singular sobre os dois olhos. Recordou até mesmo daquela queixa dela: "Sem meus olhos maquiados sou ninguém". E do seu retruco habitual cada vez que ela dizia isso: "Tu és alguém sim, és o alguém que eu amo".
Pois bem, num mundo onde a gentileza é coisa rara, posso vos falar que entre eles os diminutos gestos de de delicadeza eram rotineiros.
E deve ser por isso que ele entrou na farmácia do shopping, retirou da divisão mais alta da estante o último lápis preto para colorir mais os olhos castanhos dela.
Ainda pensou consigo que se tivesse mais tempo passaria na papelaria, compraria papel de seda e fita de cetim para fazer um perfeito embrulho daquele presente, mas inconscientemente tinha aquela saudade que não o deixava, estava faminto pelo amor e apenas ela poderia salvá-lo.
Correu para a casa e a encontrou cortando fatias finas de pimentões amarelas e vermelhos para a massa "metida à chinesa" que faria para o jantar dos dois.
Disse antes de alcançar o embrulho com uma das mãos para ela:
- Toma, uma pequena lembrança para ti.
Ela lavou as duas mãos, e em seguida as secou no pano de prato com um cacho de uvas desenhado (uma das primeiras compras que fizeram juntos) e abrindo o pacote completou com uma frase que para ele mais parecia uma bonita canção:
- Lembrança alguma ao teu lado é pequena.
A vida, para os dois, parecia sorrir.
PS: Saudade. ; )

quinta-feira, 18 de setembro de 2008


Da série: postagens antigas - parte V - texto do dia 23/10/2006



* Memórias de um ipê-roxo *

Se lhe dissessem há cinco dias atrás que viveria uma delicadeza daquelas, teria ficado ressabiada e esqueceria uma "tolice" dessas na pausa entre uma frase e outra.
Mas como ela era uma mocinha tipicamente romântica, resolveu acreditar no tal conto de fadas (com final feliz).
Os dois tinham combinado um encontro quando o sol com um beijo selado quase-quase se despedisse do céu.
Se encontraram pra variar com sorrisos fartos e corações pulsantes.
Andaram passos sem emitirem som algum.
Se correspondiam nos olhares, nos suspiros trocados.
Na rua perdida, o tapete de ipê-roxo formado, ele tirou o óculos que escondia os olhos claros e disse:
- Olha pros meus olhos.
- Quê?
- Eu te amo. E digo isso em cima do tapete mais lilás da rua.
- Eu também.
- Também?
- Também te amo.
Se abraçaram demoradamente.
Os finais do dia em Porto Alegre ganhavam contornos mágicos quando os dois andavam por aí.
PS: Porque os ipês, o céu azul, os sorrisos, borboletas fugidias, incensos de anis estrelado, as joaninhas avermelhadas, os expressos quentinhos são nossos. E contam também um pouco desse amor. Quase-quase dois anos. :D

segunda-feira, 15 de setembro de 2008


* Das amorosas ordenações *

Se eu fosse o rei desse mundo...
tu terias sempre tapetes vermelhos para que tu pudesses passar,
ou uns tapetes feitos de flores de ipês-amarelos pra no final de um duro dia tu ainda quereres sonhar.
Tu terias um dia comemorativo só pra ti... e ele seria entitulado de "Dia do Amor".
Não haveria poluição, ruas cinzas, tráfegos tão confusos.
Só haveriam riachos, grandes florestas, girassóis sorridentes, cheiro de terra úmida.
As amoreiras despejariam eternamente frutos vermelhos, tenros, doces só pra que tu possas te esquecer daquele mundo de opressão antes vivido.
Se eu fosse o rei,
tu terias um castelo.
Não um castelo garboso, de arquitetura pedante, convencional. Mas um castelo em forma de casa colorida, com varanda real. Cerquinha branca real. Cachorros reais. Mel de abelha rainha em croissants em formato de lua no café-da-manhã real para te satisfazeres. Vasos de plantas reais. Janelas reais que só dariam vista para um mar azul turquesa do tamanho do infinito.
Coisas assim, que tu princesa da minha vida, merecerias.
Se eu fosse o rei, tu não terias mais que acordar tão cedo.
Despertarias só após oito horas de sono no mínimo ao meu lado.
E as olheiras seriam proibidas de investir contra teus dois olhos verdes.
Os muros da cidade seriam cobertos de fotos tuas. E o mundo seria menos duro, mais afável assim.
Se eu fosse rei ordenaria que nós dois só morrêssemos juntos velhinhos, numa cama de casal cheirando a camomila e amor de mãozinhas dadas, sem sentir medo algum.

PS: Os dias ao teu lado são lindos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Da série: postagens antigas - parte IV - texto do dia 22/10/2006

* Somente o amor *

O que mais ambicionava no mundo era um lápis cor azul do tom do céu pra fazer o desenho perfeito.
Bastaria aquela cor e ele poderia explicar como tudo começou.
Na figura estaria exposto o amor antes desencontrado.
Los Hermanos e Djavan.
Sierra, Mediterrâneo, sobre os anexos escondidos do mundo.
Falaria de tapetes de ipê colorido.
De corridas de bicicleta.
De carinhos nas pontas dos dedos.
Vinho tinto, travesseiros bordados e pequenos torcicolos.
De casacos de gola alta.
De trouchinha de nozes, sagu, pudim e arroz com galinha da Dona Nadir.
Falaria da primeira vez que ele ouviu ela cantando "Por onde andei?", sobre o Nando que era um cara que realmente sabia das coisas, das tardes que descansavam no Gasômetro.
Descreveria tal qual a sensação que ele por ele foi vivida quando a viu de verde.
Os olhos brilhantes, a alma inquieta e a voz que quase não saía.
Diria sobre o braço no ombro.
Café expresso, raspinhas de limão.
Café dentro de um cofre, café frio.
Das cachoeiras.
Das cartas que falavam sobre futuro.
O braço que encostava por baixo da roupa.
Sobre os primeiros dias.
E os primeiros beijos.
Um deles numa escada, outro deles ouvindo "Grama Verde", outro na primeira vez que se viram e apenas as suas mãos se beijaram.
Mas justo naquele dia Caio não havia levado sua caixa de lápis de 36 cores e não poderia desenhar todo o amor.

PS: Porque tu proporcionas em mim sentimentos bonitos, os quais eu nem sabia que existiam. Obrigada pelo companheirismo, pelo amor, pelo carinho, lealdade, respeito, apoio. De repente as "balas" da postagem anterior tenham sido a minha imaginação, mas se eu descrever todos os outros pequenos e imensos presentes que tu me entregas diariamente ficaria dias e dias escrevendo no blog e agradecendo. Então aqui deixo sempre pequeninas homenagens. E os abraços de agradecimento deixarei para te entregar pessoalmente. Te amo. : )
PSII : E os trinta e três centavos não foram invenção não!!! :D
PS II: E porque faremos Caio e Sofia tão felizes como nós dois.

terça-feira, 9 de setembro de 2008


* Dos trinta e três centavos *

Era final de mês. Era realmente um problema.
O saldo do banco apontava trinta e três centavos. Apenas isso. Não poderia fazer nada.
Nem um real inteiro era.
Não daria pra comprar um algodão-doce e dizer algo delicado como: "Vi algo rosado como nossos sonhos juntos e comprei pra ti".
Estava duro, e em Porto Alegre fazia um frio danado fora de época que lhe fazia recordar ainda mais daquela quantia ínfima que tinha na conta.
Como pôde deixar isso acontecer?
Não recordava no que havia gastado tanto.
Depois lembrou das contas pagas com o cartão de crédito. Sim, finalmente não devia mais nada. Ficou contente, agradecido em ter tapado todos os furos provenientes do mês de agosto - aquele mês asqueroso. Mas trinta e três centavos? O que se faz com uma grana tão curta assim?
Logo teve uma idéia.
Passou no armazém da esquina com só aquelas miúdas moedas na mão.
Já estava atrasado mas era preciso fazer aquela última compra.
Pegou o ônibus que pagou com vale-transporte e no centro da cidade a encontrou.
Quando a viu, estendeu as duas mãos e disse:
- Escolhes uma.
Ela com o nariz vermelho por causa da friagem sorriu, estava ainda se acostumando com aquela forma leve de viver a vida ao lado dele e disse:
- A esquerda, do lado do coração.
Ele prontamente abriu as duas mãos. E em cada uma havia uma bala "Sete Belos" e ainda emendou:
- É pra dar um pouco de doçura à tua vida.
(Mal sabia ele que ela já provara dos sentimentos mais doces do mundo estando com ele).
Deram os braços e saíram por aí.
Já era quase primavera e haveriam mais motivos para se festejar aquele amor.

PS: Porque tu me fazes sonhar. Te amo. : )

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Da série: postagens antigas - parte III - texto do dia 18/10/2006


* Das pequenas entregas *

E na quarta-feira o dia acordou nublado, rabugento, melancólico e até mesmo triste.
Mas seu peito estava em brasa, seus olhos estavam embrigados de amor e nem um dia tedioso como aquele conseguiria calar o sorriso.
Tinha a íris caramelo colorida por um tom de um verde intercalado de pequenos risquinhos furtacor.
Colheria incansavelmente todos os sinais (talvez emanados do universo) que poderiam existir . Pra ter a certeza que seriam felizes.
Ele pediria à Deus pra viver um bocado a mais, pra aproveitar aquela poesia constante dos braços brancos dela.
E ela já não sonharia com sonhos desencontrados.
Reclinaria a sua cabeça e apoiaria no ombro dele.
(e veria assim como ele o céu azul naquela quarta-feira cinza...).
PS: Final de semana!!!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008


* Para nós que somos abraço *


Não a distinguia mais dentre outras.
Apesar de ter sido tão próximo dela desde tenra idade até seus vinte e poucos anos não a reconhecia.
Ele tinha se ligado a ela numa manhã de agosto quando ficou sabendo que tudo estava fadado a dor, à solidão, aos tristes pensamentos, aos anseios carnais sem um outro corpo para acalmá-lo.
Estava tão conectado a ela que já se acostumara a chamá-la de "Zinha" para parecer mais hospitaleiro, menos hostil, mais compreensivo com as poucas coisas boas que ainda ocorreriam com ele.
Sentava-se na cadeira procurando a posição que lhe deixasse com a coluna totalmente desaconchegada e só aí sossegava. Forma de penitência. Tinha que tolerar ter aquela senhorinha desagradável ao lado. Tristeza, para os mais íntimos, como ele, poderia ter como alcunha "Zinha".
Em meados de dois mil e quatro, lá ia ele com "Zinha" enroscada em um dos seus braços se arrastando pela rua da República.
Era um homem sem sonhos já.
E isso fazia doer a garganta quando falavam dele assim.
Mas para aquelas pessoas que ainda devaneiam com finais bonitos dignos de filmes das matinês que nossos avós assistiam deixo revelado um dos maiores segredos que alguém poderá lhes confidenciar: o amor SEMPRE acaba nos encontrando.
(Sempre em letras maiúsculas sim).
Desse modo ele pode explicar o que aconteceu quando largou a mão da tristeza, uma feia senhora corcunda de hálito cheirando a mofo, sorriso de poucos dentes amarelados, um soluçar angustiante e se agarrou como pôde naquela moça loira que trouxe um setembro com flores de ipês que cobriam as quadras cinzentas de Porto Alegre inteiramente.
Sim, ele jura para vocês que quando a viu, esqueceu das mazelas, dos sentimentos pouquinhos, das pétalas que só lhe entregavam "mal-me-quer" e acreditou.
Porque todos estamos predestinados ao amor. No entanto, nem todos nós estamos dispostos a lutarmos por isso.
E ele, batalhou muitos dias angustiantes de agosto para ter um setembro sorridente.
As verdadeiras histórias de amor começam onde menos podemos imaginar: em finais de festas de formatura, em broches madrepérolas furtados, em cortes de cabelo inusitados que merecem um elogio, em separações necessárias, em agostos enfadonhos que desabrocham setembros floridos, em telefones desconhecidos colocados em bolsos de paletós, em promessas que fatalmente acabam se concretizando.
Ou ainda num simples sorriso com os olhos de um primeiro encontro (como o que ocorreu entre nós dois).

PS: Adorei o café, amor. : )

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Da série: postagens antigas - parte II - texto do dia 16/10/2006

* Do primeiro dia *

Escreveria uma pequena canção que falasse de coisas que lembrassem ela.
Diria assim que gostava daquele abraço de lado.
Daquela roupa "risca de giz".
Do formato daqueles olhos cinzas quase sempre marejados.
Descreveria o quão era macio aquele lábio inferior.
Faria uma canção pro dia de hoje.
O dia com cheiro de café expresso e torta de maçã.
Esqueceria as horas tediosas longe dela.
Desenharia um coração com giz vermelho e escreveria logo embaixo com nanquim:
"Toma, é todo teu".
Faria uma poesia sobre a suavidade daquela clavícula clara e desenhada dela.
Faria rima com os nomes dos dois.
Sentaria na escada sozinho no degrau mais cinza e ali enxergaria os tons mais coloridos e vibrantes do mundo.
Faria daquelas mãos que se encaixavam tão bem nas mãos dele um pequeno abrigo da tristeza de outrora.
Passaria a noite acariciando a própria nuca pra lembrar dos carinhos dela.
E depois sonharia. Sonharia e sonharia.
(e poderia passar a eternidade assim).