domingo, 11 de abril de 2010


* Ensaio sobre o amor que faz acreditar *

- Tudo nos conformes, mãe. Tudo nos conformes.
(disse ele já saindo pela porta que dava para a rua).
Saiu por ruas sem emitir um som sequer.
Procurando por ela, talvez.
Tentando recapitular detalhe por detalhe da última conversa. Recordava sempre que ela dizia:
- Ano que vem, estaremos os dois sentados na mesa de jantar do nosso apartamento.
"Nosso" apartamento.
Ele nunca ouvira algo tão bonito e grandioso como aquelas palavras.
Era como se os dias vividos até ali tivessem ganhado uma conotação realmente especial.
Era como se uma pequena semente de pitanga caísse no chão e dali nascessem em questão de segundos florestas e florestas perfumadas.
Ah e era apaixonante.
Como gostava de saber que o Soldadinho de Chumbo sem perna, porém com poesia havia sido escolhido pela mais bonita bailarina.
Retalhos de tule coloridos que enfeitariam um lar aquecido de amor. Como era bom.
Se vocês também sentissem, o entenderiam.
É como se lá, si, sol, fá, mi, mi dessem as mãos e fizessem partituras harmônicas e plenas por se depararem com o verdadeiro significado daquilo que de mais bonito mora dentro de toda a gente.
Basta ouvir uma daquelas conversinhas entre os dois no final da noite, quando ele afirma:
- Eu resolvi, decidi... nunca iremos morrer.
Ela, um pouco confusa, questiona:
- Como assim? Um dia todo mundo morre sim.
E ele murmura baixinho:
- Ora, dentro do meu coração tu vais viver para sempre.