* Fábula sobre o amor *
Tinha onze, doze anos.
Naquela época adorava ir com a tia até a sorveteria que ficava perto de uma pracinha.
Sabia que se empanturraria com aquela massa cremosa doce e geladinha e depois passaria a tarde correndo na areia, se sacudindo no balanço, deslizando no escorregador.
Como gostava disso.
Mas gostava ainda mais de se deliciar com aquele sorvete.
Sorvete de uva.
Uma super bola de sorvete de uva lhe fazia feliz.
Só que havia um problema. Com o tempo foi criando uma grande dor no estômago e só depois lentamente (e tristemente) percebeu que adquirira aquilo com as tardes na sorveteria.
O sorvete de uva, na primeira lambida era ótimo.
E ela mal sabia o quanto de anilina era injetado ali pro sorvete ganhar aquela cor que apenas o Movimento Surrealista poderia bem explicar.
Era algo intangível aquela tonalidade.
A maneira como a solução lhe descia pela garganta também era esquisita. Primeiro um doce sem fim e depois vinha aquele amargo infinito. Como se algo gigantesco, feio e mau tomasse seus poros. Sentia-se invadida em cada pedacinho seu. Era primeiro uma alegria ir na sorveteria e comer sorvete de uva e logo depois uma tristeza. Com pouco tempo de vida acabara se tornando doente, melancólica e infeliz.
Foi quando numa tarde um 'meninoto', mais ou menos de sua idade, bateu em sua porta.
Ela abriu um pouquinho da porta ressabiada. Olhou pela frestinha os dois olhos verdes dele, os quais imediatamente sorriram para os dois olhos castanhos dela.
Logo se apresentou e da maneira mais cordial fez a ela um convite:
- Vamos tomar um sorvete?
Ela fechou a cara. Estava decidida. Não comeria mais nada que lembrasse aquele tempo de gastriste, dores estomacais e respondeu:
- Não dá. Meu estômago não mais suporta sorvete de uva.
Ele passou a mão na cabeça e rapidamente emendou:
- Tu já provaste sorvete de chocolate com nozes?
Ela:
- Nunca.
Ele, com os olhinhos sorridentes refeitos, disse:
- Então não sabes o que é estar no céu.
Puxou ela pela mão e foram os dois correndo até a sorveteria.
Lá ele, como um cavalheiro, pediu dois cascões recheados com sorvete de chocolate com nozes.
Ela ainda achou esquisito alguém gostar de algo com aquela cor inssosa.
A aparência não era nada saborosa, no entanto com a vontade com que ele se lambuzava com aquele sorvete, ela sentiu um apetite imenso de também provar.
Abocanhou uma grande quantidade e sorriu para ele.
Ele limpando o canto da boca com uma das mãos disse:
- Eu te disse! É como provar um sublime céu azul.
Ela completou com o coração disparado e com o braço direito entralaçado com o braço esquerdo dele:
- E não dói dentro de mim.
Porque o amor havia lhe tomado pelas mãos. E ela, neste momento, se deixaria levar.
PS: Final de semana chegando!!! :D
4 comentários:
Que lindo!
"E não dói dentro de mim".
Rs...
Dever ser essa a diferença. : )
Lindo Naty! : )
Beijos!!!
Natália vc não sabe o qto, adoro seus textos...o qto mesmo sem me conhecer e conhecer minha história vc consegue fazer parte dela, narrando tudo que me acontece e que se passa dentro de min [eu tb tenho um amorzinho lindo, lindo!]...
Gostaria de conseguir me expressar dessa forma tão simples e tão rica!
Vc consegue tocar fundo na minha alma... de verdade, e saiba que vc, seus textos, seus sentimentos, são os melhores remédios que eu conheço para um dia atribulado...
Todos os dias leio seu blog...sou sua fã...[rs] é sério, parece loucura mais é sério...
graaaaande bjo...
Que mais mais lindo *-*
E fofo ^^
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