sexta-feira, 28 de novembro de 2008


* Fábula sobre o amor *

Tinha onze, doze anos.
Naquela época adorava ir com a tia até a sorveteria que ficava perto de uma pracinha.
Sabia que se empanturraria com aquela massa cremosa doce e geladinha e depois passaria a tarde correndo na areia, se sacudindo no balanço, deslizando no escorregador.
Como gostava disso.
Mas gostava ainda mais de se deliciar com aquele sorvete.
Sorvete de uva.
Uma super bola de sorvete de uva lhe fazia feliz.
Só que havia um problema. Com o tempo foi criando uma grande dor no estômago e só depois lentamente (e tristemente) percebeu que adquirira aquilo com as tardes na sorveteria.
O sorvete de uva, na primeira lambida era ótimo.
E ela mal sabia o quanto de anilina era injetado ali pro sorvete ganhar aquela cor que apenas o Movimento Surrealista poderia bem explicar.
Era algo intangível aquela tonalidade.
A maneira como a solução lhe descia pela garganta também era esquisita. Primeiro um doce sem fim e depois vinha aquele amargo infinito. Como se algo gigantesco, feio e mau tomasse seus poros. Sentia-se invadida em cada pedacinho seu. Era primeiro uma alegria ir na sorveteria e comer sorvete de uva e logo depois uma tristeza. Com pouco tempo de vida acabara se tornando doente, melancólica e infeliz.
Foi quando numa tarde um 'meninoto', mais ou menos de sua idade, bateu em sua porta.
Ela abriu um pouquinho da porta ressabiada. Olhou pela frestinha os dois olhos verdes dele, os quais imediatamente sorriram para os dois olhos castanhos dela.
Logo se apresentou e da maneira mais cordial fez a ela um convite:
- Vamos tomar um sorvete?
Ela fechou a cara. Estava decidida. Não comeria mais nada que lembrasse aquele tempo de gastriste, dores estomacais e respondeu:
- Não dá. Meu estômago não mais suporta sorvete de uva.
Ele passou a mão na cabeça e rapidamente emendou:
- Tu já provaste sorvete de chocolate com nozes?
Ela:
- Nunca.
Ele, com os olhinhos sorridentes refeitos, disse:
- Então não sabes o que é estar no céu.
Puxou ela pela mão e foram os dois correndo até a sorveteria.
Lá ele, como um cavalheiro, pediu dois cascões recheados com sorvete de chocolate com nozes.
Ela ainda achou esquisito alguém gostar de algo com aquela cor inssosa.
A aparência não era nada saborosa, no entanto com a vontade com que ele se lambuzava com aquele sorvete, ela sentiu um apetite imenso de também provar.
Abocanhou uma grande quantidade e sorriu para ele.
Ele limpando o canto da boca com uma das mãos disse:
- Eu te disse! É como provar um sublime céu azul.
Ela completou com o coração disparado e com o braço direito entralaçado com o braço esquerdo dele:
- E não dói dentro de mim.
Porque o amor havia lhe tomado pelas mãos. E ela, neste momento, se deixaria levar.

PS: Final de semana chegando!!! :D

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Da série postagens antigas - parte XVII - texto do dia 21/11/2006


* Pequena declaração para a mocinha que fez do coração dele a sua morada * (ou ainda * Para quando ele encostar nas mãos dela*)

Não o censurem, senhores.
Antes o relacionamento amoroso pra ele nada mais era uma reunião de etapas a serem vencidas.
Vivia assim uma coisa opaca, uma situação sem calor, uma vidinha morna.
Usava as normas, se comprometeu com uma aliança de prata em um dos dedos.
Era um carinha assim respeitado (e quase que infeliz).
Era apaixonado pelo amor (pelo sentimento, não por alguém).
O amor fazia dele o prisioneiro, seu refém, seu bode expiatório.
Ele amava a simples idéia de estar amando (e isso parecia lhe bastar).
Então ela chegou com aquela franja nos olhos, aquela voz rouca, aquele jeito tão lindo de andar, aquela forma doce de sussurar, aquelas mãozinhas que o procuravam embaixo do edredon, aquela linda nuca (que só em sonho antes ele conhecera), aquelas risadinhas, aquele cheiro amadeirado, aquela doçura, aqueles beijos, aquele abraço (que parecia lhe proteger dos males do mundo), aquele casaco azul marinho e branco (com o qual ficava mais ela ainda), com aquela adoração pela Penélope Cruz, com aquele vocabulário gigantesco de inglês, com aqueles programas de computador (que ele nada compreendia), com aquela vontade de "pra sempre", com aquela clavícula (moldada por Deus), com aqueles jeitos adoráveis, com aquelas coxas, com aquele silêncio quando encontravam os olhos, com aquele mundo (no qual ele queria urgentemente viver), com aquela vontade de "cavacas" do armazém, com aquela emoção quando ouvia Vitor Ramil.
E então ele resolveu deixar de lado a vontade de estar apaixonado pelo amor.
(e ele agora estava apaixonado por ela).
PS: A tua beleza é algo inenarrável.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008


* Me vieste numa tarde de sábado (e só então fui feliz) *

Queria te dizer, que desde aquele primeiro dia eu venho recriando mentalmente o nosso reencontro. Sobre como escolhi a roupa, a camisa "brancamarelada", as unhas vermelhas ("Desejo") descascadas, o casaco verde. Tudo aquilo para não ser bonita o bastante pra ti. Nem pensei em te abraçar, fiquei fazendo pensamento em outras coisas tortuosas para não te abraçar. E no fim o que eu mais desejava era isso. Disse coisas bobas, bem bobas, lembro. Te falei das mazelas, das preocupações, daquelas dores que secam a garganta e emudecem a alma - quietinha pelos vários tombos. O sol refletiu no verde-amor dos teus olhos e uma lágrima pequenina brotou em mim, e eu fingi que era por causa da luz intensa. Eu fiquei emocionada com o modo que tu enxergavas o mundo. Aquela maneira desde o primeiro segundo em dizer que seria pra sempre. E eu que sempre desejei um amor infinito (e bonito) tinha te encontrado. E me belisquei por baixo da camisa, mas pedi antes que "por-favor-Deus-não-me-acordasse", só então percebi que era coisa selada essa nossa história. Coisa de destino. Fé (daquela imensa). Presente dos céus. Eu ali, apaixonada, tentando consertar esse meu desalinho com atraso, quando notei que não era por minhas vestes que tu estavas interessado.
Foi então que tu finalmente cortaste meu monólogo desvairado com o jeito acolhedor (que eu tanto gosto), dizendo:
- Não te preocupa, amor. Eu também me vesti apenas com o meu coração.
PS: Porque no meu coração tu sempre terás lugar "vip".

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Da série postagens antigas - parte XVI - texto do dia 17/11/2006.


* Enquanto dormem as crianças *

Quis sentir novamente aquela sensação antes do beijo nas escadarias do prédio quando tinha o peito em brasa, a cintura escorria água, a boca que salivava e as mãos que não a deixavam fazer o mínimo movimento.
Não escaparia daquelas mãos que a prendiam.
Ficariam ali até serem expulsos pela noite, pela tristeza dos vizinhos.
Ele então aproximou-se mais e com a língua adocicada tocou a língua dela.
E ela sentiu um pequeno arrepiar que lhe foi tomando conta.
Como se mil fadinhas minúsculas beliscassem todo seu lado direito.
Não aguentou.
Queria ter permanecido imóvel, mas não conseguiu segurar aquela ânsia.
Entregou-lhe a língua, o pescoço, a nuca, a boca, a alma (era das pontas dos dedos dos pés até a mecha cereja do cabelo toda dele).
Ele a tocava com as mãos ansiosas, com as palavras (poesia) que descobrira um pouco antes. Cantou um trecho de uma canção de amor na orelha dela.
Deixou úmida aquela orelha e ela quase não se segurou.
O universo dos dois caberia em dois degraus de escada (e no pra sempre que os aguardava).

terça-feira, 18 de novembro de 2008


* Da lista de sonhos *

Primeiro são confeccionados pequenos barquinhos com o papel que antes embrulhou o "trident de menta verde" e um por um são colocados em cima da mesa do bar, talvez para ainda sonharmos com situações mais grandiosas (as quais, com certeza, ocorrerão com nós dois).
Então tu fazes um barquinho de papel e dentro dele guarda um pedido.
Se tu olhares bem verás ali dentro de cada um as nossas vontades.
Verão "Caio e Sofia" escritos miudinhos mas ainda assim surgidos de um enorme anseio.
Ali estarão também as descrições desses dois anos e um mês juntos.
Juntos mesmo, nesse meio tempo não nos encontraram apenas em seis dias, quando o trabalho fatigante ou o estudo não permitiram, mas no fim da noite ouvimos a voz um do outro e com isso a calmaria voltou a reinar.
As pessoas terminam relacionamentos por um noite apenas, por não terem se encontrado no outro, por capricho, por terem perdido um jeito de sorrir.
Ou ainda pior, seguem presas a relacionamentos vazios, a ditadores que os podam, a sensaçõezinhas poucas. Isso acontece com gente que não ama a si próprio, mas isso é assunto para outro dia.
O nosso relacionamento é recontado todos os dias. É aquela vontade de querer melhorar, de ser alguém mais bonito. É muito bom crescer junto.
É entregar de presente todo o dia um pouco de amor, carinho, respeito, abraços acolhedores para seguir depositando no ser amado. E receber isso tudo de volta.
Eu deveria ter começado o texto dizendo que creio no amor e na força invisível que emana desse sentimento que nos possibilita sonhar.
Amor para quem ainda está aprendendo é contar com o outro, nem que seja para dizer que tudo irá se ajeitar, mesmo às vezes sabendo que isso não será possível.
Amor é fundamentalmente parar de conhecer a tristeza,
e nos braços dela eu sei apenas cantar sobre a felicidade.
PS: Ao meu amor que é doce e faz rima quase perfeita com mel (porque rima perfeita mesmo teu nome faz com o meu).

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Da série postagens antigas - parte XV - texto do dia 16/11/2006.


* Para a minha querida "Tangerine" *

Não que tu sejas a salvação para uma vida antes parada, antes morna, antes triste, antes sossegada, empoeirada, bolorenta e sem graça.
Mas quando tu chegaste, o mundo ganhou um tom que eu não poderia descrever.
Fizeste dos dias, os dias mais ensolarados que já vivi.
Fizeste de um simples cigarro de chocolate, o melhor aroma que já senti.
Fizeste das minhas mãos tristes, felicidade.
Fizeste da minha boca, um coração rosado que pulsa em teu lado esquerdo.
Fizeste da quarta-feira de cinzas, um desfile eterno da Portela.
Quando chegaste, te reconheci.
O meu coração adormecido há anos acordou novamente pra esse amor.
Quando apareceste naquele dia em tons de verde, eu sabia que não mais poderia estar longe de ti.
"Só essa lembrança, me deixe essa ao menos".
E quando passamos pelas ruas e falas sobre daqui a dez anos.
Minha garganta dói.
A vontade de te abraçar me invade.
As lágrimas ficam presas nos meus olhos castanhos (porque pra ti querida, meus olhos apenas sorrirão).
Eu era um "Joel" sem Mountak para sonhar.
E agora que te tenho, Clementine (do cabelo claro), minha busca chegou ao fim.

PS: " " = Nomes, lugar e frase retirada do filme "Brilho eterno de uma mente sem lembranças".PS II: De hoje mesmo: 13/11/2008 >>> Dia treze para comemorarmos novamente.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008


* Somos o amor *

Permitiu-se.
Pela terceira vez consentiu que lhe adentrassem realmente o coração (já repleto de teia de aranha, pó, quietude), mas não como nas outras vezes que levaram com eles seu jeito mais manso de sorrir, seu jeitinho à toa de fechar as duas mãos em concha e agradecer aos céus pela maravilhosa fatia de torta recheada de ovos moles que tinha à sua frente.
Naquela terceira vez ao invés de palavras ríspidas, sentimentos poucos, angústias constantes lhe deram paz, confete colorido, caixinhas forradas de papel crepom (para que guardasse seus sonhos todos), campos amarelados (abarrotados de girassóis dourados), bom sentimento em tua sua infinitude (o oito deitado!!!).
E respeito, meus caros.
E um sachê de coragem para ela emergir naquele chá de vidinha pouca que antes levava.
Dessa vez soube que seria para sempre, porque ele a amava desde o dia cedinho com um hálito um tanto dorminhoco até tarde da noite quando estava bêbada de sono e não conseguia mais manter pensamentos lineares.
E ela que sem dúvida nenhuma sabe falar de amor como ninguém ficou surpresa pois na terceira vez, senhores, soube realmente o que era viver de amor (do amor de verdade).

PS: Torcendo por sexta, amor. :D

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

* Da série postagens antigas - parte XIV - texto do dia 13/11/2006.


* Dia 13 - parte II * (ou ainda *Sobre o amor eterno*)

O amor não tem hora.
Me disseram isso.
Me cantaram isso.
Fizeram até mesmo plágio disso.
O amor aparece numa esquina deserta,
numa tarde ensolarada,
num cemitério adormecido,
numa rua cheia,
numa formatura de Economia,
numa foto que te é apresentada,
num sorriso metálico.
O amor nos encontra em lugares improváveis.
Só sei que eu estava lá quando tu abriste a porta.
Tu falas nas borboletas que te consumiram e eu falo de um amor bonito assim que eu tive (quando ainda era menina) e que consumiu meu peito.
O amor naquele dia nos escolheu.
E eu chego a acreditar que já te conhecia antes.
Porque sei um pouco dos teus gostos,
das tuas vontades,
das tuas manias
(queridas manias como fazer um "quê" com as sobrancelhas quando quer um beijo).
Sei um pouco de ti.
Mas ainda quero saber muito mais.
(e que eu tenha bastante tempo pra isso).
Sofia e Caio.
Caio e Sofia serão felizes.
(e eu acredito que nós dois ainda mais).

quarta-feira, 5 de novembro de 2008


* Sobre tudo que és *

És a minha vontade de lutar (e uma horinhas dessas vencer).
És pérolas e pétalas de flor.
És a moça escolhida.
És Paris.
És a minha promessa para a eternidade (e ainda para as outras vidas em que Deus seja bacana e possibilite nosso reencontro).
És o meu recomeço.
És pão-de-queijo com café expresso nos encontros rápidos das segundas e quartas.
És a sexta-sábado-e-domingo intermináveis de nós dois.
És os "PS" todos enroladinhos com uns euteamomeuamor bem açucarados.
És cântico de passarinhos.
És a minha tentativa de entrar nos eixos.
És o enlace do meu espírito (sou teu gominho de laranja e tu és a minha metade).
És o silêncio do outro lado da linha quando me calo aqui (porque de vez em quando dói um tanto saber que vai demorar um pouco mais para tu usares grinalda e eu os sonhos coloridos).
És a primeira brisa que faz espalhar as flores de ipês por uma Porto Alegre quietinha, tristonha e sonolenta.
És piruetas, preguiças, abraços na cama durante a manhã.
És o meu bom dia preferido.
És o melhor de mim.
E és principalmente sobre tudo isso de bonito que escrevo e que em certos momentos esqueço de dizer.