terça-feira, 29 de julho de 2008


* Da Docelândia *

Tinha naquele instante acabado de abrir a lata do café pra cobrir com o pó escuro o filtro branco. Iria passar café para os dois como fazia em todos os dias que acordavam juntos.
E era tão bom acordar junto dela.
Se ele dissesse que em vez de um simples "Bom diazinho" bem mais ou menos recebia uma mão que roçava na dele, um sorriso e um "euteamomeuamoreéprasempre", vocês acreditariam?
Deve ser esse um dos motivos o qual ele apresenta a ela como a sua metade.
Se alguém perguntasse:
- Ela é sua namorada?
Ele faria uma semi-encenação de espanto e logo em seguida diria alto e feliz:
- É a MULHER de minha vida.
Nunca gostou dessa palavra. Mulher era um tanto carregado, grosseiro. Seria mais lisonjeiro dizer dama, menina, moça. Mas com eles era assim mesmo. Ele era seu homem e ela sua mulher. Ou vice-versa. Poderia até faltar um pouco da delicadeza que os poetas investiriam numa história de amor assim, mas eram um par, parte um do outro (e um dos pares mais bonitos que vocês conhecerão).
Era quase agosto e nada sentiam do mês que viria redobrado de más superstições. Só uma leve tendência a um amor maior ainda. E não havia mais lugar em que poderiam guardar tanto sentimento.
O quarto onde viviam tomou-se de um cheiro que eu não saberia explicar. Era algo deles dois. Enquanto ele emprestava um certo ar de poesia ela parecia transpirar nozes cobertas de caramelo quase endurecido (e se os senhores já provaram, sabem do que eu falo).
Aquele cômodo da casa era pequeno para os sonhos que ali habitavam.
Era tanta vontade que morava dentro dos dois que até o mais cético acreditaria em céu lilás, no vestido xadrez de Sofia, em armários gigantes para guardarem as lembranças todas daqueles anos juntos, tênis de Caio cabendo dentro da palma da mão, um cachorro bobão, borboleta tatuada no ventre, incenso de anis estrelado fazendo a casa toda cheirar bem, brindes com bolas de sorvete do sabor predileto, sorrisos que não acabavam, castanhas salpicadas pelos bolos de aniversário de casamento, gérberas enfeitando vasos velhos e nada arrojados, oito pezinhos na cama brincando nas manhãs de domingo.
Moravam em um outro lugar longe das agruras desse mundo.
(moravam um dentro do outro)
E o país deles recebia o nome de Docelândia.

PS: Porque logo, logo... teremos o mesmo endereço. : )

segunda-feira, 21 de julho de 2008


* Sobre a oitava letra e o infinito *

Ela chama-se Sarah com h. Sua mãe sempre gostou de complicar um pouquinho as coisas, então quando teve a quarta filha resolveu que ela se chamaria Sara, mas não seria uma Sara qualquer, ela se chamaria Sarah com h.
Ela não gostava muito de ter que dizer aos colegas da turma do "Jardim A" que sua mãe era uma mulher maravilhosa, porém um tanto presunçosa demais e por isso que esse nome era seu nome. Essa foi era a maior angústia de Sarah até seus quatorze anos. Aquele h metido num nome tão bonito.
Sarah deixou um pouco de lado esse infortúnio quando conheceu Éracles, isso mesmo que vocês lêem. Éracles sem o "h" inicial. Sarah com h então viu que existiam problemas maiores. Devia ser mesmo um situação esquisita ser Éracles sem "h".
Logo que Sarah leu esse nome na chamada não conseguiu conter a risada abafada. Não era apenas sua mãe que era um tanto louca, haviam outros pais como os dela por aí.
Sarah esperou o segundo toque da campainha, levantou-se e saiu correndo para o pátio, perto do jardinzinho de lírios em que Éracles sem h estava sentado. Ela ainda pensou "meninossãoafoitosesemprechegamantes", mas não falou sobre isso com Éracles, tentou ser criativa, inovadora e perguntou:
- Queres o meu h emprestado?
Éracles não entendeu nada e nem quis. Abaixou a cabeça. Estava acostumado a ser ridicularizado, não tinha mais paciência em explicar que seu pai gostava de mitologia grega, era autodidata, uma das pessoas mais interessantes que já havia conhecido e semi-analfabeto. Para Éracles aquela explicação não cabia mais... não responderia mais às habituais galhofas quanto ao seu nome. Por isso ajeitou o óculos fundo de garrafa no rosto, e continuou mexendo no punhado de tatuzinhos bola que rolavam no canteiro.
Sarah percebeu a tremenda burrada que fizera. Como a sua tia Lúcia dizia, ela realmente adorava meter os pés pelas mãos. Logo emendou um desculpa assim encabulada e voltou a se apresentar:
- Oi, Éracles. Me chamo Sarah com "H". Queres essa letra emprestada para ti?
Éracles levantou os olhos e viu ao seu lado uma moça loira, com fantásticos olhos verdes e cabelo escorrido (com aroma de camomila mesclado com amêndoas). Não resistiu aquele olhar tão terno, mudou rapidamente o semblante tacirtuno e disse:
- Bem que eu gostaria, Sarah com h. Bem que eu gostaria.
Aquela foi a primeira vez que Éracles e Sarah se apaixonaram.
Sim, porque eles se apaixonaram novamente várias vezes durante esses quase trinta e dois anos anos de união, quando ainda comemorarão "Bodas de Pinho".
Será assim, os dois, Éracles e Sarah eternamente juntinhos (com h).
(e com a oitava letra do alfabeto pra comemorar fazendo as vezes de oito deitado - infinito).

PSI: Porque os nossos dois nomes do diminutivo também ganham "H".
PSII: Ontem quando não consegui dormir, fiquei te olhando sonhar. E aí me deu uma vontade de escrever algo sobre nossos anos juntos. E ainda quero te lembrar, logo faremos "Bodas de Algodão". Te amo. : )


quarta-feira, 16 de julho de 2008


* Sobre anênomas, estrelas e bem querer *

Hoje eu acordei completamente apaixonada por ti.
Não que nos outros dias eu não estivesse apaixonada por ti, mas hoje quando os raios solares entraram no meu quarto mesclados com o anil de um céu de brigadeiro que sorria para toda a gente, eu tive ainda mais certeza.
Pois é, e preciso dizer isso pra ti.
Talvez seja por esse teu jeito de bem-me-quer e bem-me-quer. Porque contigo é sempre manhã de sol a pino. Mesmo quando tudo está assim-assim arranjamos uma maneira de tentarmos a felicidade.
Deve ser esse amor descomunal o qual tenho por ti e porque quando eu perco a fé na humanidade tu me encoraja novamente para acreditar nas pessoas.
É como se fosse o processo de um lixinho reciclável. Eu te entrego uma garrafa velha, opaca, riscada e tu me entregas de volta um vaso todo trabalhado e entupido de girassóis para eu enfeitar a minha mesa de estudo.
Também devo crer que essa paixão seja pela maneira como tu cantas para mim quando ninguém está olhando. Porque daí tu és só meu. E eu sou só tua.
E talvez seja porque tu és a minha prosa, o meu versículo preferido.
És me salvador de um limbo interminável de coisas angustiantes e tolas.
Porque o tempo que deve ser amigo íntimo de nós tem feito com que esse amor apenas cresça dentro dos nossos dois peitos. É incrível perceber que a cada cinco segundos passados eu sou um tanto mais tua e assim por diante.
Porque a primeira coisa que em ti notei foram essas ternas mãos. Que quando tocaram às minhas quiseram ser dois pares inseparáveis. As tuas mãos e as minhas mãos que já tinham lembranças de outros rostos, de outros corpos, outras memórias se fundiram. E as tuas mãos só querem as minhas e vice-versa.
E em algum futuro bem próximo saberão que tu és um santo, tentarão te colocar no altar e tu vais dizer que estás acostumado com situações mais amenas e correrá para os meus abraços e dirá a eles que queres ficar assim por algum tempo.
Eu deveria dizer que fico emocionada cada vez que esparrama tuas tristezas em meu ombro. E eu sou a mulher em que tu confias para dizer que tudo ficará bem.
(Tudo mesmo ficará bem).
Porque se morássemos dentro do mar seríamos anênomas e corais.
Porque se habitássemos o céu seríamos asteróides e estrelas.
Porque nós dois juntos, somos mais belos.
E se "mal-me-querem" os outros.
Tu apenas bem-me-quer.

PS: o óbvio ululante - EU TE AMO.

sexta-feira, 11 de julho de 2008


* Daquilo que eu te falava... *


Amor,
eu sei que o tempo anda curto, mas ainda assim quando sobrar algum tempo, nem que seja um pouquinho dele nos teus dias gostaria que tu soubesses que estarei pensando em ti.
Nunca tive pressa para nada.
No reloginho no qual quase não sei ler as horas, os ponteiros sempre passaram letárgicos, arrastados. E eu até preferia que continuasse assim, entretanto não é o que acontece. Tenho tido pressa, muita pressa.
Quero casar hoje mesmo. Quero ter filhos no mais tardar em 2011 e acredito que seja oportuno lembrar que estamos em 2008. Quero tanto nossos filhos. E um apartamento para colocarmos as poucas coisas que já temos, nem que seja para empilhar todos os potes em preto e branco que já ganhamos da tua mãe sobre a mesa em formato de feijão que também nos foi presenteada.
Desde pequena venho sonhando com um casamento grandioso, alvo, que ocorreria vespertinamente num sábado. Eu teria imensas flores de cetim e brocados adornando o meu pescoço, nada de véu ou grinalda que acho pretensioso e demasiadamente brega.
Os nossos padrinhos vestiriam cada um uma cor conforme sua predileção, não gosto de impor regramentos às pessoas, logo se os padrinhos viessem munidos de seus sorriso mais bonitos eu ficaria satisfeita.
Eu poderia também desejar uma aliança de ouro branco com pequenas pedras de topázio que formariam um abstrato azul e ali eu juraria enxergar - " teu amor para sempre". Ou um "oito deitado".
As aias não espalhariam pétalas de flor quando eu entrasse finalmente na igreja (porque sinto te informar mais eu me atrasaria, não ao ponto de tornar maçante um dos momentos mais belos da minha vida, e sim para que lembrassem de mim com traços mais simétricos e bonitos do os que tenho realmente)...as aias ao contrário disso, soprariam bolinhas de sabão. Porque eu gosto daquele "ploft" que os pequenos sonhos condensados em circunferências perfumadas fazem quando se desmancham no ar.
Em vez de tulipas brancas, lisantros mesclados e claros eu gostaria que existissem na decoração vasos repletos de marshmallows retorcidos em branco e rosa. Para que ficasse um cheiro doce no ar, como aquele que sinto cada vez que estás perto.
Mas se nada disso for possível, eu me distraio com as descrições que povoam todos os sentimentos relacionados a ti e serei feliz.
Aliás, seremos os dois (e SOMOS) felizes.

Assinado: Sempre tua.

PS: Porque cada minuto longe de ti é tristinho. ; )

terça-feira, 8 de julho de 2008


* Para Laura *

Às vezes para se contar uma verdadeira história de amor não se faz necessário um homem, uma mulher, ou um príncipe, uma princesa, uma bruxa má, mas uma bruxa tão má que seja péssima, uma torre alta, longas tranças, ou ainda um plebeu poeta paupérrimo e uma dama da alta aristocracia e poesias que o primeiro dedicou à segunda.
De vez em quando para se escrever uma história de amor basta uma menina com olhinhos rasgados, aparência indígena, sorriso escancarado, uma vontade de proporcionar amor e um cachorrinho.
Sim, vocês estão lendo isso mesmo, um cachorrinho.
Não um cachorro qualquer. Ele tem que ser um buldogue, corpulento e cheio de dobrinhas. Com o focinho constantemente úmido e que lamba as pontas dos dedos da pequena indiazinha quando ela sentir-se só. Que não a abandone nunca.
Não precisa ser o cão mais bonito do mundo, basta ser o mais companheiro.
A menina e o objeto de sua afeição desbravarão ruas e parques de Porto Alegre felizes. Saberão que tem um ao outro e nada mais importará. Os eventuais obstáculos que vencerão (juntos) parecerão tão diminutos que os ultrapassarão como quem pula as casas da amarelinha feita de giz verde no final da quadra.
E este cãozinho não terá um nome pomposo como Napoleão, pretensioso como Raul, Ramiro, nem banal como Rex. A menina índia quer um nome simples e carinhoso como Guinho. E eles serão perfeitos assim.Laura sabe que um dia Guinho irá crescer, talvez não caiba mais apenas no quarto dela, talvez esqueça de seus bons modos, faça xixi onde não deva, envelheça, rosne para os vizinhos, torne-se mal humorado, mas a menina também sabe que Guinho caberá SEMPRE dentro de seu coração.
Às vezes para se contar uma história de amor se faz unicamente preciso um buldogue chamado Guinho e uma menina chamada Laura.
PS: Laurinha, porque eu sei quanto o Guinho é importante pra ti. Beijo da mana que te ama. : )

segunda-feira, 7 de julho de 2008


* Sobre hora certa, cafés e amor *

O nome dele não é Augusto.
O nome dela não é Cecília.
Mas faz de conta que hoje eles dois têm esses respectivos nomes.
Vocês, como eu, não se preocupam com os nomes reais deles,
o endereço onde possam remeter cartas perguntando sobre como vão,
os tipos sangüíneos,
as alturas, pesos, números das carteiras de trabalho.
Vocês, assim como eu, querem saber sobre o amor.
Então eu vos conto sobre o amor.
Ele não é realmente Augusto,
ela não se chama Cecília.
Mas algo essencial compreender é que eles se amam.
Eles já estão há quase dois anos juntos.
É claro que alguém (não munido de flores por dentro) dirá: " Só isso? ".
E um dos dois (Augusto ou Cecília - mesmo não sendo esses as suas alcunhas reais) retrucará: "Realmente, só faz esse pouquíssimo tempo que passei a sorrir".
Augusto e Cecília, que fique sabido, se amaram desde o princípio.
(Augusto antes do princípio ainda, porque o seu primeiro amor foi Cecília. Mas Cecília ainda não sabia da existência do rapaz. E essa história fica para uma próxima vez.)
Cecília tinha passado por uma separação. Tinha se decepcionado com qualquer tentativa de relação amorosa que pudesse ainda existir. Mas conhecer Augusto naquela sexta-feira de julho, fez dela uma moça esperançosa novamente.
Augusto estava recluso num relacionamento triste. Não era culpa dele ou de quem com ele se relacionava. O pecado era tentar preencher as lacunas com alguém que não era feito para ele. E vice-versa.
Só que um dia Cecília se atravessou em meio a um sucedâneo de erros (que era a vida que Augusto levava até ali). E Augusto ficou atônito. Não sabia onde colocar tanto amor assim. Acalmou-se um tanto quando Cecília o convidou para um café e disse que tudo ficaria bem.
O que eu esqueci de dizer é que Augusto que não se chama Augusto, era um cara cético. Daqueles teimosos mesmo. E ele não amoleceria nem com uma boa explanação.
Mas algo mudou naquele instante. Augusto viu em Cecília a sua chance.
Augusto colocou Cecília em sua vida.
Daquele primeiro café, Augusto lembra do calor que sentiu.
Da mão de Cecília sobre sua perna direita. Como o modo que ela segurava a xicrinha de "cortado" e do modo como o objeto não parava de sacudir. Sobre o nervosismo de ambos. Da conversa que envolvia um "daquiaquarentaanosquandoestivermosvelhinhos".
E o cético Augusto foi tomado de certezas.
Realmente Cecília tinha razão.
Desde então está "tudo bem".

PS: Para o meu "Augusto". Para a minha "Cecília". : )

sexta-feira, 4 de julho de 2008


* Sobre a moça com quem eu quero dançar adentrando amanheceres *

Ela é sorriso e olhos de estrela.
Beijos longos e estilo.
Ela é minha sorte.
Ela é minha melhor amiga.
Ela é quem me põe na cama.
E é com ela quem quero acordar pelo resto dos dias.
Ela é a arquiteta responsável pelos meus sonhos.
Ela é o gesto mais delicado.
Ela é o cântico dos pardaizinhos apaixonados.
Ela é uma coroa feita de ervas daninhas e pérolas de ostras.
Ela é a última flor de ipê-roxo se despedindo da primavera.
E a primeira florezinha de ipê que saudou a estação colorida.
Ela é sorriso e bolas de algodão.
Ela é o meu abrigo contra a tristeza.
Ela é os barquinhos de papel (que querem percorrer aqueles mares, teus mares), os quais faço quando estou amuado.
Ela é o oceano.
Ela é noite de desejos intermináveis.
Ela é o cabelo loiro platinado da Catherine Deneuve.
Ela é meu vocabulário.
Ela é minha vontade de querer ser melhor.
Ela é um quadrinho de "Tenha um bom dia" na parede da cozinha.
Ela é meu pedido a São Jorge realizado.
Ela é a bondade de Abel.
Ela é um punhado de amoras reluzentes que a Dona Joana separou para preparar a torta que os meninos tanto gostam.
Ela é quem eu quero para estar ao lado no altar,
na igreja,
no ônibus,
no cinema
e no hospital (quando nossos dois rebentos chegarem).
Ela é noz e avelã.
Ela é a linha de costura que remendou meu coração de crepe que estava puído.
Ela é a testa franzida quando está brava com as injustiças do mundo.
Ela é o sol morno arrastado nas tardes quentes de verão em Porto Alegre.
Ela é o charme de Marlon Brando.
Ela é a cor rubra.
Ela é bonita, fina, fiel, culta, descolada e nem um pouquinho presunçosa por todos esses atributos.
Ela é uma plantação de girassóis bem no meio de Encruzilhada do Sul.
Ela é alecrim, açucena, pudim de leite, almofadas fofas pra descansar, constelações.
Ela é a donzela com quem protejo o meu escudo de "menino-feio-antes-sapo-e-agora-feliz-príncipe-que-tem-como-sua-princesa-o-sobrenome-amor"

PS: Sextaaaaaaaaaaaaaa!!! :D

quinta-feira, 3 de julho de 2008


* Para teus olhos verdes que colorem meus dias opacos *


O que eu gostaria...
o que eu queria...
(era dizer bem perto do teu ouvido esquerdo as "palavras-amor" - que decorei uma a uma pra ti).

PS: Plagiando o olhar presente-ausente do filme que vimos. : )