quinta-feira, 23 de abril de 2009

Da série postagens antigas - parte XXVIII - texto do dia 17/01/2007


* Moça loira, casa comigo? *

E se ela casasse comigo, que feliz eu seria.
Ah que feliz.
Cantaria uma marchinha curta pra ela todas as manhãs. Uma canção ligeira para que tivéssemos mais tempo para a troca de beijos.
O gosto daqueles lábios é tão bom.
É como se embrigar com licor de pêssego, cereja, pétalas de jasmim, cigarrinho de canela, cravo, bolo embriagado (quando ele está bem molhadinho).
Os lábios dela são uma avalanche de doces sabores.
Talvez seja por isso que eu queira casar com ela.
Eu seria feliz, mas bem feliz mesmo com um "sim" dela.
A tatuagem que traz nas costas eu acariciaria cada vez que ela nua fosse olhar a janela só pra me dizer que o dia estava ensolarado (e mesmo com um dia cinza ela disfarçaria um sorriso gigantesco) e gritaria de lá:
"- Olha, o dia está comemorando o nosso amor".
E deve ser por isso que eu queira casar com ela.
Com ela, meus senhores, eu seria mais feliz.
Cada vez que eu dobro a esquina e de longe ela me enxerga, ela sorri com seus olhos quase-quase verdes, quase-quase cinzas.
E sinceramente, deve ser por isso que eu ainda casarei com ela.
O modo com que ela tira as minhas roupas, cuidadosamente, e as empilha ao lado da cama. Sinaliza pra mim a pequena montanha de trapinhos ajeitados e eu em pensamento grito pra ela:
" - Que moça é essa? Obrigada, Deus. Me deste a coragem para largar minha vida curtinha e sem graça para estar aqui com ela."
E é com certeza, por isto que casarei com ela.
Porque ela, apenas ela, (finalmente) me completa.
Assinado: Moço moreno.

sexta-feira, 17 de abril de 2009


* Da recordação *


Tudo lhe parecia a primeira vista um pouco embaçado.
Depois começou finalmente a distinguir os contornos do que presenciava.
Havia um tom lilás. Violeta... ou alguma cor que lembrasse essa tonalidade. Vultos.
No centro do palco havia um moço, de trinta e poucos anos, falha nos dentes, com a camisa branca um tanto apertada na região abdominal, um terno bem alinhado, um olhar meio estrábico.
Atrás dele vinham em torno de sessenta pessoas.
Algumas tinham nas mãos violinos, outras flautas doces que assobiavam melodias mais doces ainda.
Algumas pessoas carregavam instrumentos que eu nunca tinha visto ou ouvido falar, mas como minha pouca compreensão para musicalidade tu poderás me desculpar.
E na frente desse grupo inteiro havia uma platéia.
Com mais mulheres do que homens.
E tu sabes bem sobre a minha predileção por mulheres.
Mulheres podem gerar outros seres, mulheres não emitem um grito de "ai" durante a depilação, entretanto se enxergarem uma pequenina barata serão capazes de alçar vôos sobre cadeiras, mesas. E eu acredito que seja essa contradição que me torne tão próximo delas.
Quando o moço iniciou a balbuciar as primeiras notas no sarau, os corações todos começaram a palpitar em tal velocidade que não haveria como te explicar, querida.
Os homens ficaram com olhos marejados, tentando acalmar as esposas sem sucesso algum.
As jovens senhoras entraram em prantos com a voz daquele moço de terno bonito.
As senhoritas solteiras passaram a acreditar no verdadeiro amor.
É como se aquela voz entrasse na gente.
Permanecesse na gente.
Parecia que todos ali, extasiados, queriam sonhar.
E diante tamanha beleza, eu pensei em ti.

PS: Porque o mundo tinha que ser mais bonito porque tu estás nele!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Da série postagens antigas - parte XXVII - texto do dia 16/01/2007

* Dos "menos peixinhos que há no mar do que os beijinhos que darei na sua boca"*

Ele poderia ter ofertado aquele ar doce que escorria pela paisagem através da janela naquelas manhãs de janeiro.
Ele poderia ter citado as folhas que se lançavam das árvores (para uma triste morte) da Redenção (quieta, vazia e triste) quando ela lá não estava.
Poderia ter contado do último sonho que teve com ela.
Sonhou com ela deitada na cama.
Com a borboleta pousada no colo dela... e o beijo que entregava na tentativa de não perder o inseto multicolorido.
Deveria ter mostrado o que escreveu sobre ela.
E o bocado de reticências que usou.
Descrevê-la era algo complicado.
Ninguém mais tinha aqueles olhos.
E ponto.
Poderia ter concebido um filho com aquele amor que transbordava dos dois. Escreveria que o amor é bom (é muito bom, sim senhor). E que desde que a conheceu naquela festa patética, o mundo era tão mais bonito agora com a presença dela.
Deveria ter dito que ela era a imagem que ele tinha na lembrança cada vez que alguém evocava a palavra "metade".
Mas no fim, com aquela timidez incontrolável... quando a encontrou cedeu um abraço apertado e todos os sonhos (que tinham ela como protagonista) que borbulhavam por dentro dele.
PS: Porque agora eu sei o que é amor.

sexta-feira, 3 de abril de 2009


* Dos significados do amor *

Antônia não sabia até então o que era o amor.
A mãe, quando Antônia ainda era criança, lhe havia dito uma vez que: "Amor é invento do capeta".
Antônia então passou a acreditar que o amor era plano ardiloso "daquele que não se diz o nome" para subverter pobres mocinhas de corações desamparados.
Segundo o pai de Antônia, o amor era: "...o leve deslize do fechecler que deixava à mostra tudo aquilo que deixaria qualquer cabra-macho desatinado. Era penugem, saliva doce, gracejos libidinosos e múltiplas explosões." A menina não compreendia muito bem sobre o que seu pai falava. Segundo a própria Antônia seu pai era confuso, beberrão, mas ainda assim possuía uma boa alma. Sorriu para o pai diante àquela explicação, pediu a benção habitual e saiu a procurar alguma explicação melhor.
Para a tia Carmela, a dona da confeitaria: " O amor é como devorar três pães doces, quatro quindins, sete bem-casados, oito fatias generosas de nega maluca, cinco olhos-de-sogra e ainda assim sentir a necessidade de ingerir um sonho entupido de doce-de-leite inteirinho ao final da orgia alimentar. Amor é doçura, menina". Tia Carmela era uma senhora obesa, de cento e muitos quilos, com pele oleosa, olhar tristonho, cabelo comprido repleto de pontas duplas. O marido de Tia Carmela já tinha tido casos com quase todas as moradoras do bairro Santa Maricotinha e por isso tia Carmela já havia tentado se matar algumas vezes, mas na imaginação daquela feia senhora, o amor era doçura.
Antônia não entendia bem como as pessoas possuíam aquela facilidade desmedida de descrever o amor e ela invejava poder fazer isso também.
Antônia, quase todas as noites antes de adormecer, pegava o seu caderninho de capa já desbotada e iniciava aquela mesma frase:
" O amor é "reticências" ".
E não conseguia prosseguir na busca das palavras exatas. Ia então dormir desesperançada e cansada de tentar entender.
Entretanto, como nenhum conto sobre o amor deveria terminar mal, Antônia naquele setembro florido encontrou Frederico.
Frederico, penúltimo de uma família de quatro irmãos. O mais bonito dos rebentos e provavelmente o mais dedicado filho. Fumava só eventualmente, costumava dizer que fazia aquilo pelo "social". Bebia pouca cerveja pois tinha enxaquecas tremendas. Não sabia fazer conta de cabeça. Era querido, charmoso, um verdadeiro "gentleman". Sorria com os lábios e com os dois grandes olhos verdes. Já tinha tido algumas namoradas, mas a nenhuma prometera amor eterno como o que prometeu a Antônia no terceiro dia que se encontraram. Tinha a mania de esfregar o nariz com a mão em formato de concha quando pensava em soluções para problemas gigantescos. Passava a mão constantemente na franja em desalinho que insistia em cair sobre a testa. Tinha perfume de mescla de flores-do-campo, essência de baunilha e esperança que moraria no coração daquela que era a escolhida.
E naquela mesma noite, antes de sonhar, Antônia escreveu em seu caderno:
" O amor é Frederico".
PS: Porque quando setembro chega trazendo aqueles ipês lilases e amarelos eu tenho ainda mais motivos pra comemorar. Te amo. Rumo aos três!!! :D

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Da série postagens antigas - parte XXVI - texto do dia 26/12/2006.


* Do telefonema dessa manhã *

- Oi, eu liguei apenas para ...(dizer que o teu cheiro ainda está em mim, aquele teu cheiro adocicado que tem mesclas de canela, charuto, conchas do mar, baunilha, erva-doce. Falar que não sai do meu pensamento, és a primeira moça que acompanha meu despertar e a última no final do dia. És a primeira, última e também a única. Dizer que teu perfil é o mais bonito dos perfis, parece desenhado. Deus um dia parou e resolveu criar o perfil mais bonito (para mim) e te criou. Não páro de pensar na possibilidade de ter um retrato de ti, de perfil, fumando um cigarro de cereja. Liguei para dizer que eu quero casar contigo, ter um ar condicionado contigo. Ter nossos filhos, ter um caderninho na cabeceira da cama para anotarmos nossos planos mirabolantes. Quero conhecer cada uma das tuas histórias. E saber em quantas vezes foste uma mera coadjuvante. No meu roteiro adaptado, querida... tu ganharás todas as falas. E eu todos os beijos da atriz principal. Queria tirar a tua roupa, te despir da tristeza. Te encontrar nua de dores e pudores... te ter todos os dias pelo resto dos dias. Queria dizer que teu olho verde não tem uma descrição, não consegueria dizer em simples palavras a exata cor. É talvez a cor do mato quando bem cedo a pequena menina colhe as flores para fazer uma coroa para a sua mãe. Ou talvez seja mera fruto da minha imaginação esses teus verdes olhos que eu não canso de vislumbrar. Te amo com a urgência de ter teus lábios encostados nos meus. Te amo com a paciência da espera pelo dia em que serás minha mulher)...perguntar como estás?
PS: Pronto... aí está o que eu gostaria de ter falado.